A idéia de organizar os catadores de materiais recicláveis e de sociedade participar do trabalho de apoio a estes homens, mulheres e crianças vem acontecer, em Niterói, num momento em que a comunidade parece ter descoberto a importância de participar das decisões que lhe interessa. Tem sido com a discussão em torno da UERJ e começa ser também com este segmento social.
Logo de início descobre-se nos catadores não apenas desempregados, pessoas com pouca formação escolar, sem qualificação profissional, mas, entre eles, quem tem habilitação profissional para atuar na administração de comércio, gerentes de lojas, que perderam a paciência de bater de porta em porta exibindo currículo, esperando sua vaga no mercado de trabalho.
A cena pitoresca, para dizer o mínimo, de homens puxando carroças, lotadas de papelão, papéis e latinhas, esconde a luta de muita gente, que é explorada pelo atravessador e que está descobrindo a forma de escapar de suas garras: organizar-se em cooperativas.
A comunidade, ao resolver apoiar esta iniciativa, está descobrindo que esta diante de um novo elemento social, que não pode ser tratado com os olhos da comiseração, mas acima de tudo com o respeito que a cidadania confere a quem, de forma silenciosa, cumpre um papel que o poder público tinha a obrigação de estimular, que é o de reciclar o lixo, limpar a cidade, torná-la melhor para se viver.
Não é um caso de pessoas que vivem do lixo, qualificadas como uma categoria próxima do lumpem operariado, mas antes são cidadãos conscientes de sua condição social, das dificuldades para se colocar no mercado de trabalho.
Cabe agora aos outros cidadãos, ditos mais conscientes, fazer a inclusão dos catadores no contexto social. Eles devem ser tratados pelo que representam, pelo papel que exercem na sociedade. São agentes da limpeza urbana e da preservação do meio ambiente. Cumprem, deste modo, papel tão importante – as vezes mais – do que organizações ambientalistas e do próprio poder público.
No caso de Niterói o envolvimento da comunidade, em seus diversos setores, com o problemas destes agentes pode gerar resultados espetaculares, como a implantação da coleta seletiva, reciclagem do lixo e formação de profissionais em oficinas que ensinem lidar com o material recicláveis (tirando as crianças das ruas e fazendo com que voltem a receber formação educacional).
Tudo vai depender da sensibilidade das autoridades, do prefeito municipal, da câmara de vereadores. Se esta sensibilidade a vitória será de todos, mas principalmente dos catadores que terão conquistado um status do qual já são merecedores, o da plena cidadania.